sexta-feira, 26 de setembro de 2014

“Ninguém pode usar o nome de Deus para cometer violência" - Papa Francisco

No encerramento de sua viagem à Albânia neste domingo, 21/09/2014, o Papa Francisco encontrou-se com crianças do Centro Betânia e de outros centros caritativos do país e lembrou que o bem paga “infinitamente mais que o dinheiro”.

“Esta fé que trabalha na caridade move as montanhas da indiferença, da incredulidade e da apatia e abre os corações e as mãos para realizar o bem e difundi-lo. Através de gestos humildes e simples de serviço aos pequenos passa a Boa Notícia de que Jesus ressuscitou e vive em meio a nós”, disse o Pontífice agradecendo pelo acolhimento dado não só a ele nesta visita, mas a todas as crianças necessitadas atendidas pelo centro. Segundo ele, lugares assim confirma os fiéis na fé, pois é possível ver a fé em caridade concreta, levando luz e esperança em situações de dificuldade.. .

Novamente, o convívio pacífico foi destacado por Francisco. Ele falou do testemunho dado pelo centro de assistência de um convívio pacífico e fraterno entre pessoas de diferentes etnias e religiões. “Aqui as diferenças não impedem a harmonia, a alegria e a paz; antes, se tornam ocasião para um mais profundo conhecimento e compreensão recíproca”.

Nesse contexto, as diferentes experiências religiosas se abrem ao amor respeitoso para com o próximo, não se envergonham da bondade. Segundo Francisco, a bondade dá uma consciência tranquila e uma alegria profunda mesmo em meio a dificuldades e incompreensões. “Mesmo em face de ofensas sofridas, a bondade não é fraqueza, mas força verdadeira, capaz de renunciar à vingança”.
Francisco também falou às crianças e colaboradores do centro da importância do bem, definindo-o como um “prêmio a si mesmo”, como algo que paga infinitamente mais que o dinheiro. Ele destacou ainda que o segredo de uma vida de sucesso é amar e doar-se por amor, o que dá força ao ato de sacrificar-se por amor.

O Santo Padre concluiu seu discurso deixando um encorajamento para a ação caritativa no país. “Continuem com confiança a servir nos pobres e nos abandonados o Senhor Jesus e a pregá-lo para que os corações e as mentes de todos se abram ao bem, à caridade ativa, fonte de alegria verdadeira e autêntica”.

COM LÍDERES DE OUTRAS RELIGIÕES
Durante a visita à Albânia neste domingo, 21, Papa Francisco encontrou-se com líderes de outras religiões e de outras denominações cristãs. O Pontífice destacou a necessidade da busca pelo bem comum e afirmou que ninguém pode usar o nome de Deus para cometer violência.

Francisco recordou que o país foi testemunha de violência e de exclusão forçada da fé em Deus, que trouxeram consequências para a sociedade. “Conheceis bem a brutalidade a que pode conduzir a privação da liberdade de consciência e religiosa, e como desta ferida se gera uma humanidade radicalmente empobrecida, porque fica privada de esperança”. Mas destacou que as mudanças ocorridas no país a partir da década de 1990 criaram novamente condições para a liberdade religiosa.
Durante o discurso, Francisco recordou a visita de João Paulo II, em 1993, ao país e o apelo feito pelo então Papa a viver a unidade. “Nada como a fé nos recorda que, se tivermos um único Criador, somos também todos irmãos! A liberdade religiosa é assim um baluarte contra os totalitarismos e um contributo decisivo para a fraternidade humana” (Mensagem à Nação Albanesa, 25 de Abril de 1993).
Francisco disse aos líderes que “a religião autêntica é fonte de paz e não de violência”. “Ninguém pode usar o nome de Deus para cometer violência. Matar em nome de Deus é um grande sacrilégio. Discriminar em nome de Deus é desumano”.

Para a promoção da liberdade religiosa, o Pontífice indicou duas atitudes principais. A primeira delas é ver em cada homem e em cada mulher não um rival muito menos um inimigo, mas um irmão e uma irmã. A segunda atitude é o “compromisso a favor do bem comum, pois quanto mais se está ao serviço dos outros, tanto mais se é livre”.

Francisco fez aos líderes religiosos o convite de olhar ao redor e descobrir as inúmeras necessidades dos pobres, e pediu que “inspirados pelos valores das suas próprias tradições religiosas possam oferecer uma contribuição não só importante mas insubstituível aos mais necessitados”.
No final do discurso o Papa exortou os líderes a manterem a tradição de boas relações já existente na Albânia. “Continuai a ser sinal para o vosso país – e não só para ele – da possibilidade de relações cordiais e de fecunda colaboração entre pessoas de religiões diferentes”.

Fonte: http://franciscanos.org.br/?p=67661#sthash.GmAqXDRI.dpuf

sábado, 6 de setembro de 2014

ENCRUZILHADA ELEITORAL

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

Fonte: http://www.cnbb.org.br/outros/dom-walmor-oliveira-de-azevedo/14910-encruzilhada-eleitoral
Na medida em que se entra na reta final para as eleições 2014, a propaganda avança e as pesquisas impactam. O cidadão se vê numa encruzilhada eleitoral. Um enorme desafio à cidadania. Não basta apenas escolher um nome. O alcance da responsabilidade e das consequências do voto não permitem atitude simplória, sob pena do alto custo de decisões inadequadas sobre o executivo e a representatividade. Uma gama enorme de fatores interfere na consolidação dessa esperada postura cidadã, obviamente na contramão da inadmissível proposta do voto nulo ou do não comparecimento às urnas. Eleições garantem o exercício nobre da cidadania. Por isso mesmo, supõem e exigem preparação individual muito mais elaborada. Um espinhoso processo de discernimento pela articulação e confronto desta gama de fatores que perpassam o emocional, as razões ideológicas - necessariamente presentes no embate eleitoral - e os interesses econômicos, atingindo um horizonte político de maior elaboração e clarividência. Fácil não é.
Escolher apenas por simpatia, sob impulso, é um tremendo risco. É indispensável analisar programas e propostas das coligações partidárias e ponderar elementos, especialmente aqueles de inegociável sensibilidade social, num momento em que o pobre e o excluído precisam ter prioridade de tratamento e destinações. Também não se pode dispensar o compromisso dos que têm competência para gerar e garantir dinâmicas de crescimento econômico e a consequente inclusão social. Trata-se de um exercício político que inclui atividade de conhecimento e disposição para debates e confrontos, nas rodas familiares, de amizade e profissionais, em exigente processo de discernimento. Agora é hora de buscar indispensável avanço na sociedade.
Os vícios da política brasileira e suas mediocridades não justificam a falta de envolvimento e empenho por parte dos cidadãos. Aliás, a construção do novo, em política e em cenários de igualdade social, é processo complexo que supõe um passo a passo até que se possa alcançar a meta, responsabilidade de todos, de uma sociedade mais civilizada e amadurecida no exercício e no tratamento de sua cidadania. Basta pensar a amplitude de reformas que precisam ocorrer para que um cenário novo se desenhe, superando o modo obsoleto de se fazer política no Brasil.
Sabe-se que sem reformas política, tributária, fiscal e outras não se avançará para além de discursos repetitivos, estéreis, e de promessas que caem no descrédito. Neste “passo a passo” para que as reformas aconteçam, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras 400 entidades continuam, nesta Semana da Pátria, a investir no Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política. Ao oferecer critérios adequados para avaliar a qualidade dos candidatos ao Executivo e, sobretudo, ao Legislativo, esta proposta impactará a realidade política do Brasil. Não custa nada contribuir com sua assinatura e buscar outras, entre amigos e familiares. Só assim, será possível se chegar ao número exigido de adesões para que o projeto da Reforma Política passe a tramitar no Congresso Nacional. Um desafio à hombridade dos eleitos e à coragem de olharem para além dos interesses cartoriais e particulares.
Este Projeto de Lei, nos seus quatro importantes itens, terá força para modificar o atual quadro político do Brasil. Por meio dele, será possível afastar o poder econômico das eleições, com a proibição do financiamento de campanhas eleitorais por empresas; cobrar coerência de candidatos e partidos com a eleição em dois turnos - o primeiro para a escolha de um programa e o segundo para a escolha das pessoas que ocuparão os cargos políticos. Não se pode simplesmente, como acontece na realidade brasileira, depositar tudo nas mãos de algumas pessoas para que governem e legislem a partir de interesses próprios, de trocas e de pagamento de favores. A Reforma Política cobrará, ainda, a urgência inteligente de aumentar a participação das mulheres. Embora constituam 58% do eleitorado, apenas 8% delas desempenham funções políticas. É enorme a perda da contribuição feminina neste setor, em vista de sua qualificação comprovada em outras áreas.
É precioso ainda, como quarto ponto da proposta de Reforma Política, ampliar a participação do povo nas principais decisões, por meio da regulamentação de Plebiscito, Referendo Popular e Projeto de Lei de Iniciativa Popular, mesclando a democracia representativa com a democracia participativa. O não atendimento a esta urgência resultará em continuar a manter o povo - verdadeiro dono do poder - submisso a essa representatividade que não o representa. Refém de dirigentes que não atendem suas necessidades básicas e de direito, gerando quadros na contramão da justiça social.
Neste mesmo ato de coleta de assinaturas pela Reforma Política, como celebração digna da Semana da Pátria, se faz o recolhimento de votos por uma Assembleia Nacional Constituinte para mudar o sistema político no Brasil. O caráter popular deste plebiscito é um exercício importante de cidadania e com impacto nas instâncias governamentais para que convoquem um plebiscito oficial. O discernimento neste momento eleitoral e o gesto cidadão de participar desta coleta de assinaturas ajudarão a desenhar um novo cenário para que não seja tão nebulosa, como está agora, desafiando a todos, com riscos muito sérios, a atual encruzilhada eleitoral.

A PESSOA HUMANA E SUA INTANGÍVEL DIGNIDADE

Extrato do texto de:
AGOSTINI, Nilo. Afirmação cristã da dignidade humana. In: SANTOS, Ivanildo; POZZOLI, Lafayette. Direitos humanos e fundamentais e doutrina social. Birigui: Boreal, 2012, p. 10-11.

O protagonista de toda a vida social é a pessoa humana. A partir desta afirmação, a vida social tem a pessoa humana como “o sujeito, o fundamento e o fim dela”.[1] Tomado concretamente na sua história, o ser humano está no coração deste ensino social, que se desdobra a partir da afirmação da “intangível dignidade da pessoa humana”[2]. Homem e mulher, dotados de igual dignidade, são de igual nível e valor[3], exigem ser abordados “na plena verdade da sua existência, do seu ser pessoal e, ao mesmo tempo, do seu ser comunitário e social”.[4] Na busca da verdade e do bem, há uma lei moral natural que “precede e unifica todos os direitos e deveres”[5] e “exprime a dignidade da pessoa humana”.[6] Neste sentido, podemos apreciar o “progresso moral da humanidade”[7], manifestado positivamente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pelas Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, também considerada como “uma das mais altas expressões da consciência humana do nosso tempo”.[8]

Esta Declaração Universal dos Direitos Humanos não é a única no decorrer da história, porém representa um importante ideal a ser atingido por todos os povos e nações. Espera-se que os Estados a tenham sempre em mente, assumindo medidas progressivas para assegurar o seu reconhecimento e a sua observância. Este respeito deve até mesmo ir além das fronteiras dos próprios Estados, constituindo-se num “passo importante no caminho para a organização jurídico-política da comunidade internacional”.[9]

A centralidade da pessoa humana, inconfundível protagonista da vida social, nos reenvia à sua dignidade que requer ser respeitada em qualquer circunstância, pois é dotada de um valor incomparável, inviolável, sendo por isso inalienável.[10] Trata-se de um belo testemunho de maturidade, advinda da clareza do respeito pela pessoa humana, o que implica o respeito dos direitos que decorrem de sua dignidade toda própria, advinda de sua natureza mesma.

 “A igual dignidade das pessoas postula que se chegue a uma condição de vida mais humana e mais equitativa. Pois as excessivas desigualdades econômicas e sociais entre os membros e povos da única família humana provocam escândalo e são contrárias à justiça social, à equidade, à dignidade da pessoa humana e à paz social e internacional”.[11]




[1] PIO XII, Radiomensagem (24 de dezembro de 1944), 5; AAS 37 (1945) 12. PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”, Compêndio da Doutrina Social da Igreja, São Paulo, Paulinas, 2005, n. 106.
[2] Cf. JOÃO XXIII, Carta encíclica Mater et Magistra, AAS 53, 1961, p. 453, 459. Cf. PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”, op. cit., n.107.
[3] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n.2334.
[4] JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptor Hominis, 14; AAS 71 (1979) 284; Cf. PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”, op. cit., n. 126.
[5] JOÃO PAULO II, Carta encíclica Veritatis Splendor, São Paulo, Paulinas, 1993, n. 50, p. 81 (A Voz do Papa, 130).
[6] PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”, op. cit., n. 140.
[7] JOÃO PAULO II, Discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas (11 de outubro de 1979); L’Osservatore Romano, edição em português, 7 de outubro de 1979, p. 8.
[8] JOÃO PAULO II, Discurso por ocasião do 50º aniversário da Organização das Nações Unidas (5 de outubro de 1995) 2; L’Osservatore Romano, edição em português, 14 de outubro de 1995, p. 3.
[9] JOÃO XXIII, Carta encíclica Pacem in Terris, 6ª ed. Petrópolis, Vozes, 1977, nᵒ 144.
[10] Cf. JOÃO PAULO II, Carta encíclica Evangelium Vitae, Petrópolis, Vozes, 1995, n° 5 (Documentos Pontifícios 264); cf. CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO DA FÉ, Sobre o respeito humano à vida humana nascente e a dignidade da procriação – Instrução “Donum Vitae”, Petrópolis, Vozes, 1987, n° 2 (Documentos Pontifícios 213).
[11] Constituição Pastoral Gaudium et Spes, nº 29, § 3. In: VIER, Frei Frederico (coord.), Compêndio do Vaticano II: Constituições, decretos, declarações, 22ª edição, Petrópolis, Vozes, 1991, p. 172.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

ADMIRAR, CONTEMPLAR, VISLUMBRAR OS VESTÍGIOS DE DEUS

“É realmente cego quem não vê tantos esplendores que, em profusão, emanam da criação. É surdo quem não desperta ante o concerto de tantas vozes. É mudo quem não louva a Deus diante de todas essas obras. É tolo quem, diante disso tudo, não reconhece o primeiro princípio. Abre, pois, os olhos, utiliza os ouvidos de tua alma, solta os teus lábios, aplica o teu coração para ver, compreender, louvar, amar, venerar, honrar e glorificar o teu Deus em todas as coisas” (São Boaventura).

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

IGREJAS CATÓLICAS QUEIMADAS EM MINAS GERAIS, BRASIL


De março até agora, sete igrejas católicas foram incendiadas em Minas Gerais, Brasil. Para Pedro Ribeiro, doutor em ciências da religião, "isso é intolerância..., isso vai contra todo pensamento da tolerância religiosa, da aceitação do diferente, do sadio diálogo entre as religiões”. O fundamentalismo e o fanatismo já estão mostrando sua cara no Brasil. Isso não existe só em outros países. Sejamos vigilantes.