quarta-feira, 16 de setembro de 2015

PÓS-MODERNIDADE: A "MUDANÇA DE ÉPOCA" APRESENTA CHANCES E OPORTUNIDADES

Frei Nilo Agostini

Vivemos uma “mudança de época”. Ela é portadora de chances e desafios. Estamos vivendo a emergência de um novo modelo de sociedade, fundado numa cultura que se refaz constantemente; esta vem marcada por uma série de características que se aliam, tais como: a "intelectualização", a "criatividade", a "flexibilização", a "emotividade", a "subjetividade". Se a razão triunfou na sociedade industrial e moderna, hoje emerge com força a esfera emotiva e subjetiva. Está em crise a sociedade focada exclusivamente no trabalho, no mercado e na competitividade. Como alternativa, um modelo centrado em outras premissas está em gestação. É a hora de nos situarmos devidamente ante o novo; este não só bate às nossas portas, mas já se aninha em nós mesmos.

Redimensionam-se os valores vitais e os eixos básicos da vida humana. O novo irrompe por todos os lados. Já não é mais possível encobrir seus “sinais”, nem passar ao largo, num “faz de conta” que não vimos.

Esta é uma época cheia de chances e oportunidades. É hora de saber reconhecer o que é bom, encorajar o que constrói a vida, aliando novas tecnologias, disposição de dialogar e de escutar, com o componente experiencial, superando o estritamente teórico. Hoje, quer-se provar, saborear mais do que teorizar e acumular saberes. Em meio a isso, surge o desafio de promover uma cultura que de novo dê sentido à vida e à história, buscando a humanização, sem perder o dinamismo e a criatividade. Há algumas décadas, vem se impondo o ideal da qualidade de vida, que não é tanto “ter mais”; carregado de um novo ideal de vida, esta prima pelo qualitativo, estético, emocional e cultural. Há uma busca de estetização do mundo. A alta tecnologia vem, cada vez mais, recebendo um toque estético. Importa criar ambientes agradáveis, belos de se viver, mais conviviais e hospitaleiros, numa cultura do bem-estar e da estética.

Cultivar a imaginação, viver na diversidade, cuidar do meio ambiente, buscando civilizar a cultura-mundo: eis o desafio! Precisamos engenhosamente aliar tecnociência e política em vista de uma solidariedade global. “Trata-se de investir de forma maciça nas tecnologias limpas, economizar energia, taxar cada vez mais pesadamente as indústrias poluentes, modificar os hábitos de consumo, criar um ecodesenvolvimento”[1]. Assistimos, em nossos dias, ao crescimento da solidariedade, à busca por intercâmbios, à aspiração por uma cultura da paz. Apresenta-se o desafio de edificar uma sociedade aberta e multicultural, com justiça social.
Cresce a consciência, em nossos dias, de que as responsabilidades ante os desafios modernos e pós-modernos devem ser partilhadas. Antes de condenar, temos que compreender. Isto supõe conhecer as realidades ou ao menos acompanhá-las em sua complexidade, diversidade e rápida mutação. Em vez de ficar repassando as responsabilidades aos outros, convém assumi-las nós mesmos. Precisamos passar do tempo da diabolização para o tempo da responsabilização individual e coletiva, o que implica numa abertura de espírito, numa capacidade permanente de diálogo e num lastro ético indispensável.

            Não podemos passar ao largo de um novo sopro ético emergente em nossos dias. Toda iniciativa ou empreendimento não poderá mais carecer de uma responsabilidade social e terá que ser ecologicamente limpo. Isto se traduz, sem dúvida, no cultivo de uma “tarefa interna”, de uma “intimidade moral”, indicando o florescer de um novo sopro ético, numa revitalização da exigência ética em nossas vidas, em nossas comunidades e no todo da sociedade. Não podemos pensar este processo nos refugiando num passado que não mais existe; é necessário encarar, com especial disposição, um novo diálogo com os interlocutores destes tempos novos, buscando habilitar desde dentro o ser humano a dar respostas à altura dos novos desafios.

Fonte: Este texto foi extraído de:
AGOSTINI, Nilo. Cambios de época: oportunidades y desafíos. In: CARRERO, Ángel (coord.). Franciscanesimo e contemporaneità: Ripensare l'evangelizzazione francescana di fronte alle sfide della cultura attuale. Atti dei convegni 11-13 luglio 2012 e 29-31 gennaio 2013, Roma: Ordine Frati Minori, 2014, p. 111-120.



[1] LIPOVETSKY, G.; SERROY, J. A cultura-mundo: Reposta a uma sociedade desorientada. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 185.

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